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sábado, 26 de janeiro de 2013

BUCK: " O QUE FIZ DA MINHA VIDA?"

...Um ano depois, Amaro sentado numa chaise longe no jardim do hospital, lado esquerdo completamente paralizado, tendo como única visita, Clodiete, sua querida miss do Cientifico, que não lhe abandonara, anotava o que o combalido Amaro lhe ditava sobre a terrivel experiência porque passara, não omitindo sua indecorosa participação no partido, que, aliás, nada fizera em seu auxilio.
Contou nos menores detalhes, como enriquecera, recebendo propinas, colocando aditivos nos projetos sem licitação; falou sobre o lado obscuro e violento da organização, que tirava de circulação quem se interpusesse em seu caminho. Clodiete, anotava aos prantos o que o marido lhe ditava, entre o espanto, decepção, mas não podia esconder uma admiração pelo novo Amaro que surgia à sua frente, destruido fisicamente, mas decididamente um novo ser que em nada lembrava a figura pastosa e deprimida de outrora.
Perderam tudo. Tiveram que desfazer-se da mansão que fora vendida abaixo do valor em virtude da necessidade de quitar as enormes dividas, e o pagamento dos carissimos tratamentos necessários à precaria recuperação de Amaro. Este tomara a decisão de fazer um dossiê, e distribuir à imprensa, policia federal, e o Supremo Tribunal Federal. Sabia das consequências, mas o que poderia ser pior do que a lembrança dos pesadelos (ele achava...) que o tinham marcado definitivamente e que o despertaram para a consciência de que tinha perdido o jovem Amaro com seus ideais, e que o levava, mesmo no desespero por que passara, a repetir o verso de Fernando Pessoa - " Meu Deus...o que fiz da minha vida"?

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