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domingo, 23 de agosto de 2009

NOITES DE CIRCO

“Sei que é doloroso um palhaço se afastar do palco por alguém.Volta, que a platéia te reclama, sei que choras palhaço, por alguém que não te ama." Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito. Em 1953, quando foi lançado nos cinemas da Suécia, o filme foi massacrado pela crítica que o classificou no mínimo, de “desagradável”, “chocante” e “um vômito de uma refeição mal digerida.” Já Pauline Kael, considera Noites de Circo como “um dos mais sombrios filmes de Bergman, onde ninguém se salva da danação total.” Revi-o quarenta e poucos anos depois de sua estréia no Brasil. À época, não apreendi o forte aspecto existencial do filme. Acreditava que existia um projeto de felicidade para o Ser Humano, com Glenn Miller como fundo musical... Percebi, com o tempo, que a “coisa” era mais para Charlie Parker soluçando ao sax, Around Midnight e morrendo drogado aos trinta e quatro anos. Digressões à parte, meu reencontro com Noites de Circo, foi um verdadeiro soco abaixo da linha da cintura. Bergman não tem exatamente uma visão Pollyanna da vida. Cada fotograma exala desesperança, e ao mesmo tempo, uma enorme ternura pela precariedade da condição humana. No primeiro plano, carroças silhuetadas no cimo de uma montanha, deslizando como um cortejo fúnebre. Ouve-se o canto de um galo. O primeiro. Depois, Frost, o palhaço, numa cena antológica, carregando sua mulher que nadava nua para a delícia de um bando de soldados, numa incrível fotografia expressionista do mestre Sven Nykvist, remetendo a Cristo carregando a cruz no calvário. As quedas, a humilhação. A precariedade do circo ambulante, a pobreza dos esquetes, a interpretação de Ake Gromberg no limite da “teatralidade”, mas com uma intensidade emocional raramente vista. O público zombando às gargalhadas do chefe da trupe, gordo, patético, sendo espancado pelo ator que o traíra com sua jovem amante. O segundo canto do galo. O circo, em preto e branco – sacada de gênio fugindo do previsível: cores, música esfuziante, a “alegria” que permitiria o escapismo ao espectador. E no final, Bergman, leitor de Nietzsche, o reverencia: O eterno retorno. Em sentido contrário, as carroças no mesmo cimo da montanha silhuetadas, fecham o circulo. Negra imagem. Negro destino. O terceiro canto do galo.

5 comentários:

Unknown disse...

Verezinha meu querido amigo!É essa sua sensibilidade estofada de conhecimento que me faz a cada dia que passa orgulhar-me por poder dividir ,mesmo que por poucos dias da semana,nossas instalações "Projaquianas".
Claudio Galvan (Amigo eterno).

Natália Parreiras disse...

Querido,

Já estás em nosso Blog do Corujão da Barra!
Que honra!

Beijo enorme,

Natália

Válvula disse...

Olá Carlos Vereza;

Gostaríamos de um contato seu para conversarmos sobre uma produção em Santa Catarina. Trata-se de um documentário com cenas de ficção, a ser rodado em Lages, serra catarinense.

Poderias nos enviar seu contato via email para: tac@tac.art.br

Ficamos no aguardo, na esperança de poder contar com seu maravilhoso trabalho!

att;

Flavio Roberto
Tac Produções

Andrea Sassaki disse...

Oi Carlos Vereza!
Achei seu blog sensacional! MUito obrigada pela leituta facinante que eu tive o prazer de ter, por horas a fio! Um abraço carinhoso!

SARASWATTI disse...

Adoro caminhar nas suas veredas!
Cordialmente,
BEN.